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BITTENCOURT SAMPAIO
( Sergipe – Brasil )
Nasceu em Laranjeiras, Sergipe, em 1 de fevereiro de 1834.
(...)
Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, filho de um negociante português do mesmo nome e de D. Maria de Santa Ana Leite Sampaio, nasceu em Laranjeiras, localidade da então Província de Sergipe, no dia 1o. de Fevereiro de 1834, e desencarnou no Rio de Janeiro a 10 de Outubro de 1895. Foi jurisconsulto, magistrado, político, alto funcionário público, jornalista, literato, renomado poeta lírico e excelente médium espírita. Tendo principiado seus estudos de Direito na Faculdade do Recife, continuou-os na Academia de São Paulo (atual Faculdade de Direito), fazendo parte da turma de Bento Luis de Oliveira Lisboa, Manoel Alves de Araújo, Eleutério da Silva Prado e outros nomes notáveis da política e da jurisprudência brasileiras. Interrompeu, em 1856, o seu curso acadêmico para acudir os conterrâneos enfermos, por ocasião da epidemia de cólera. Por esses serviços, a que se entregou desinteressadamente, foi condecorado pelo Governo Imperial com a Ordem da Rosa, que não aceitou por incompatível com suas idéias políticas.
(...)
Bacharelando-se em 1859, Bittencourt Sampaio exerceu a promotoria publica em Itabaiana e Laranjeiras, em 1860-1861, trabalhando ainda como inspetor do distrito literário na primeira dessas comarcas. Em março de 1861, retirou-se da Província de Sergipe, vindo para a antiga Corte do Rio de Janeiro, onde abriu banca de advogado, que freqüentou por muitos anos.
Fragmento de biografia extraído de: https://www.febnet.org.br/
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Ocupou relevantes cargos na República, como o de relator dos debates da Assembleia Constituinte, entre 1889 e 1893.
Morreu no Rio de Janeiro, em 10 de outubro de 1895.
ROMANTISMO / seleção e prefácio Antonio Carlos Secchin. São Paulo: Global, 2007. (Coleção roteiro da poesia brasileira. Direção: Edla van Steen.) Ex. bibl. Salomão Sousa
PRANTO MATUTINO
Eu de noite a sós contigo
Mil beijos de amor te dei;
Tu me chamavas de amigo...
—"Por quê, bem sei!"
De encontro ao meu palpitando
Batia teu seio então!
Tu me abraçavas corando...
— "Não digas, não!"
Nos céus a Lua brilhava,
Que brilho o seu! que palor!
Dizias que ela sonhava...
— "Amor! Amor!"
Na relva fresca e macia
Ao lado teu me deitei;
Nem um, nem outro dormia
— "Por quê? Não sei."
Por que o amor é loucura,
É chama que vive a arder;
Só quando mostra a ventura...
— "Nos faz morrer!"
A aurora lá no Oriente
Por entre flores sorriu;
E tu choraste inocente...
— "Quem foi que viu?"
O prado, a relva, as boninas
Que o sol depois enxugou:
Essas gotas cristalinas...
— "Somente um anjo as chorou"...
Flores silvestres (1860)
A MUCAMA
(Bahia)
Eu gosto bem desta vida,
Por que não hei de gostar?
A minha branca querida
Não de nunca deixar.
Eu gosto bem desta vida,
Por que não hei de gostar?
Tenho camisa mui fina
Com mui fino cabeção:
As minhas saias da China
São feitas de babadão.
Tenho camisa mui fina
Com mui fino cabeção.
— "Sinhá, permite que eu saia?
"— À tarde pode sair."
Visto então a minha saia,
Lá me vou a sacudir.
Sinhá, permite que eu saia?
"— À tarde pode sair."
Deito o meu torço com graça
E a minha beca também;
Atravesso a rua, a praça.
Dizem logo: "Ei-la que vem!"
Deito o meu torço com graça
E a minha beca também;
Se arrasto bem as chinelas
As chaves fazem tim... tim...
Vejo abrir-se um janela
Donde alguém olha p´ra mim.
Se arrastro bem as chinelas
As chaves fazem tim... tim...
E o velho diz do sobrado:
"Minha crioula, vem cá".
Não gosto do seu chamado,
Não sou crioula: p´ra lá!
E o velho diz do sobrado:
"Minha crioula, vem cá".
Os moços todos me adoram,
Me chamam da noite flor;
Atrás de mim eles choram,
Por eles não sinto amor.
Os moços todos me adoram,
Me chamam da noite flor.
Tenho alguém que no caminho
À noite ne vem falar;
Que com afago e carinho
Sabe a mucama abraçar.
Tenho alguém que no caminho
À noite me vem falar.
Que me diz com voz mansinha
O que eu nunca ouvi dizer:
"Minha preta, tu és minha,
Hás de comigo viver!"
Que me diz com voz mansinha
O que eu nunca ouvi dizer.
É sinhô-moço! Que agrado!
É sinhô como não há!
Diz-me sempre: "Tem cuidado!
Não contes nada a sinhá!"
É sinhô-moço ! Que agrado!
É sinhô como não há!
De minha terra gentil!
Vivo escrava da amizade,
Quero morrer no Brasil.
Já nem tenho mais saudade
Da minha terra gentil!
Á noite sei o meu canto,
Que faz o peito gemer;
Mas nestes olhos o pranto
Jamais ninguém há de ver!
À noite sei o meu canto,
Que fez o peito gemer.
Eu gosto bem desta vida,
Por que não hei de gostar?
À minha branca querida
Não hei de nunca deixar.
Eu gosto bem desta vida,
Por que não hei de gostar?
Ibidem.
Flores silvestres (1860)
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Página publicada em maio de 2022
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